Ano marca recorde de Marta na equipe feminina, mudanças nas categorias de base, Dunga no comando do time olímpico e crise sem precedentes no comando da CBF
Data: 22/12/2015 - Por: GloboEsporte.comRio de Janeiro
Era o ano da primeira competição oficial de Dunga após o seu retorno à seleção brasileira. Eliminatórias para a Copa de 2018 prestes a começar. E a promessa de um Neymar ainda mais decisivo para a equipe nacional. Mas o que se viu em 2015 foi um time irregular (eliminação precoce na Copa América e altos e baixos na classificação para o Mundial) e um craque pouco inspirado em campo e de cabeça quente: foram apenas quatro gols em nove partidas e suspensão de quatro jogos após confusão no jogo diante da Colômbia, no torneio disputado no Chile.
O próprio atacante tem consciência de que o Brasil precisa melhorar em 2016 para conquistar novamente a confiança do torcedor.
- Sabemos que temos muita coisa para melhorar. Não digo tudo. Espero que seja um ano de felicidade para a Seleção. Vem as Olimpíadas e sabemos que é um título que o Brasil não tem. Em se tratando de Seleção não pode deixar de ter uma medalha de ouro. Estando em casa, temos que tentar vencer - disse Neymar, em entrevista ao GloboEsporte.com.
Se em campo, o torcedor ainda mostra desconfiança. Fora dele, os fãs do futebol ficaram ainda mais perplexos. O ex-presidente da CBF José Maria Marin foi preso na Suíça no fim de maio. O atual mandatário, Marco Polo Del Nero, se licenciou do cargo após ver o FBI abrir investigação sob a acusação de conspiração para extorquir, fraude e lavagem de dinheiro.
Confira abaixo o que de melhor aconteceu na Seleção e na CBF em 2015:
desempenho
Ao longo de 2015, o Brasil fez 14 partidas. Foram oito jogos oficiais, entre Copa América e eliminatórias, e seis amistosos. A seleção brasileira obteve dez vitórias, dois empates e duas derrotas (Colômbia e Chile). A equipe marcou 24 gols e teve Neymar, apesar do ano irregular, como seu artilheiro, com quatro bolas na rede dos rivais.
O que chamou a atenção na temporada foi a troca de goleiros. Dunga iniciou a temporada com Jefferson. Em dado momento, o treinador optou por testar Marcelo Grohe e dar mais rodagem a outros arqueiros. Após o início das eliminatórias e uma falha do jogador do Botafogo, o comandante optou por mudar de vez: Alisson, do Internacional, é o dono da posição no momento. Ele fez três partidas como titular da equipe nacional.
copa américa
A expectativa era de um desempenho superior ao de 2011, quando a Seleção foi eliminada nas quartas de final pelo Paraguai. Naquela ocasião, em La Plata, a queda foi nos pênaltis, derrota por 2 a 0 e nenhuma penalidade convertida pelo time canarinho. Quatro anos depois, o mesmo rival surgiu diante do time canarinho e venceu da mesma maneira: nas penalidades.
Desta vez, o vilão não foi o erro nas penalidades, mas o zagueiro Thiago Silva. O Brasil vencia a partida até os 26 minutos do segundo tempo quando o defensor colocou a mão na bola. Derlis González deixou tudo igual no marcador e o Paraguai levou a partida para os pênaltis (veja no vídeo abaixo). O jogador do Paris Saint-Germain não voltou a ser convocado após a partida.
Mas não foi apenas Thiago Silva que saiu com a imagem arranhada da Copa América. O atacante Neymar também não esteve bem. Apesar da boa atuação na estreia, no triunfo por 2 a 1 sobre o Peru, o camisa 10 perdeu a cabeça contra a Colômbia, acabou expulso e ainda arrumou confusão com o árbitro Enrique Osses. Acabou suspenso pela Conmebol por quatro jogos.
Foram quatro partidas na competição. O Brasil obteve duas vitórias, uma derrota e um empate. Outra constatação: após o torneio, jogadores que atuavam em mercados emergentes, como China e Emirados Árabes, não foram mais chamados por Dunga.
eliminatórias
Em 2015, o Brasil fez quatro partidas pelas eliminatórias da Copa de 2018. Foram duas vitórias, um empate e uma derrota. O desempenho até aqui deixou a Seleção comandada por Dunga na terceira colocação, com sete pontos. O Equador lidera a classificação, com 12 (100% de aproveitamento), seguida do Uruguai, com nove.
O Brasil começou mal as eliminatórias. Derrota por 2 a 0 para o Chile, em Santiago, e uma atuação de altos e baixos. Na sequência, vitória por 3 a 1 sobre a Venezuela, em Fortaleza. Nos dois primeiros compromissos, o time canarinho não contou com a presença de Neymar, suspenso. Willian, com dois gols nos confrontos, foi o principal destaque.
Na dupla de jogos seguinte, contra Argentina e Peru, o Brasil poderia contar com a sua principal estrelas. Após ver o jogo diante dos Hermanos ser adiado em um dia por conta de um temporal que castigou Buenos Aires, a Seleção ficou no empate por 1 a 1 com os rivais. No jogo seguinte, a melhor atuação na competição: triunfo por 3 a 0 (veja no vídeo abaixo).
neymar
O ano 2015 foi o pior de Neymar com a camisa da Seleção. Além de ter sido obrigado a cumprir suspensão de quatro jogos por conta da expulsão e da confusão após a derrota por 1 a 0 para a Colômbia, na Copa América, o camisa 10 não foi bem em campo. Foram apenas quatro gols em nove partidas - média de 0,44.
Apesar disso, Neymar tornou-se o quinto maior goleador da história da equipe nacional, com 46 gols em 69 partidas - média de 0,66 (atrás apenas de Pelé, Ronaldo, Zico e Romário). O melhor ano do atacante com a camisa amarelinha foi 2014. Foram 14 partidas e 15 bolas na rede dos rivais - aproveitamento superior a um gol por compromisso disputado.
- A seleção sempre teve muitos jogadores de qualidade. Nunca foi de um cara só. Dou os parabéns a todos os jogadores que estão jogando muito bem e representaram o Brasil muito bem nesses dois amistosos - afirmou o atacante.
reformulação na base
Alexandre Gallo era uma das referências de José Maria Marin na CBF. O ex-presidente elogiava o trabalho do treinador. Porém, em fevereiro de 2015, o técnico deixou o cargo de coordenador das categorias de base. Ficou apenas como treinador da seleção sub-20 e da equipe olímpica. Não demorou, com a ascensão de Del Nero, para o profissional ser demitido.
Com a saída de Gallo, Gilmar Rinaldi, diretor de Seleções, passou a ter mais autonomia nas escolhas. Definiu a chegada de Erasmo Damiani para assumir a base e deu carta branca para o novo coordenador escolher outros profissionais. O ex-goleiro também bateu o martelo na decisão de Dunga ser o treinador da equipe principal e o técnico da Seleção nas Olimpíadas.
- É um grande desafio para o Brasil, para mim nesse momento. Conversamos com o presidente e com o Gilmar. Eles colocaram a situação para mim, as medidas que estavam sendo tomadas. Para mim foi uma surpresa, mas ao mesmo tempo um grande desafio para nós da seleção brasileira, nós da CBF. As Olimpíadas são na nossa casa e vamos trabalhar - afirmou Dunga.
Após a reformulação, o Brasil foi vice-campeão mundial sub-20 e ficou nas quartas de final do Mundial Sub-17, além de ser campeão sul-americano sub-15.
Marta eterna
A seleção brasileira feminina teve uma rainha eleita em 2015. Após marcar sete vezes no Torneio Internacional de Natal, Marta chegou aos 100 gols com a camisa canarinho e ultrapassou a marca de Pelé, com 95. O final do ano com o título começou com o pontapé inicial em um projeto. Foi criada em janeiro a seleção permanente, onde um grupo de 30 a 35 atletas foi reunido para treinos intensos. O objetivo? Primeiramente, a disputa do Mundial do Canadá, Pan e os Jogos Olímpicos de 2016.
Sob o comando de Vadão, o trabalho foi colocado em prática. Mas um tropeço acabou ocorrendo na primeira das três importantes competições. O Brasil foi eliminado pela Austrália nas oitavas de final da Copa do Mundo com uma derrota por 1 a 0. Alguns dias depois, o time teria a chance de se recuperar. Veio então o Pan e com ele a medalha de ouro diante da Colômbia com uma vitória por 4 a 0.
A temporada teria o encerramento com o torneio na Arena das Dunas. Com participantes como Trinidad e Tobago, México e Canadá, o Brasil queria encerrar com "chave de ouro". Assim ocorreu. Diante das canadenses, a Seleção venceu por 3 a 1 e conquistou a taça de forma invicta com direito a goleadas de 11 a 0 e 6 a 0 diante de trinitinas e mexicanas, respectivamente.
cbf em xeque
Em abril, a CBF trocou de comando. José Maria Marin passou o bastão para Marco Polo Del Nero. A sucessão já era de se esperar porque os dois comandaram o futebol brasileiro desde a renúncia de Ricardo Teixeira, em 2012. Em maio, porém, a entidade levou o primeiro baque. Dias antes da eleição presidencial da Fifa, Marin e outros dirigentes foram presos sob acusação de conspiração para extorquir, fraude e lavagem de dinheiro. A ação foi coordenada pelo FBI em parceria com a Justiça suíça.
Marin seguiu preso na Suíça até novembro quando foi extraditado aos Estados Unidos. O dirigente participou de audiência na semana passada em Nova York e conseguiu prorrogar o prazo para pagar sua fiança às autoridades americanas. A nova data para a quitação de cerca de R$ 7,75 milhões se estendeu até o dia 15 de janeiro.
O segundo baque aconteceu no início de dezembro. No mesmo dia em que o FBI o indiciou por crimes como lavagem de dinheiro, o presidente Marco Polo Del Nero se licenciou o cargo e escolheu o deputado federal Marcus Vicente para ficar à frente da CBF. O dirigente é investigado ainda pelo Comitê de Ética da Fifa e pode ser banido do esporte.
Na semana passada, o dirigente foi convidado a participar de audiência na CPI do Futebol, instaurada pelo Senado e presidida pelo Senador Romário. Na conversa com os políticos, Del Nero se defendeu das acusações.
- Sou acusado de forma injusta, mas não surpreendente. Tendo em vista o que acontece no futebol mundial, é normal ser questionado. Sou responsável pelo cargo que ocupo e pelo ônus que ele traz. Eu me defenderei com a certeza absoluta da minha inocência. Não tenho o que esconder. Tomei a iniciativa de me afastar da presidência da CBF para me dedicar a minha defesa e evitar influência nas investigações - disse Del Nero ao abrir o depoimento na CPI.