Nesta quarta-feira, a maioria das jogadoras da seleção de futebol da Espanha decidiu pôr fim ao boicote à Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) após uma intervenção do governo, que buscou implementar mudanças estruturais na entidade. Somente duas jogadoras optaram por manter o boicote, apesar de a equipe ter se sagrado campeã mundial no mês passado na Austrália e na Nova Zelândia.
Patri Guijarro e Mapi León, ambas do Barcelona, foram as jogadoras que decidiram deixar o centro de treinamento da seleção espanhola em Valência nesta quarta-feira, após receberem garantias do governo de que não sofreriam punições.
Essa dupla havia se apresentado com as demais jogadoras da seleção na terça-feira, mesmo contra a vontade, após a convocação da nova técnica da seleção, Montse Tomé. A treinadora assumiu o comando da equipe após a conquista da Copa do Mundo, e convocou praticamente todas as jogadoras que haviam assinado o manifesto contra a RFEF, apesar do boicote.
Os detalhes do acordo entre o governo, a RFEF e as jogadoras não foram divulgados publicamente, mas a intenção é implementar mudanças estruturais na entidade. A reunião desta quarta-feira durou várias horas e contou com a presença das atletas, representantes do governo federal, membros da federação e a própria treinadora.
A presidente do sindicato dos jogadores, Amanda Gutiérrez, afirmou que foram tomadas medidas para garantir tratamento igualitário para as seleções femininas e masculinas da Espanha, sem mencionar os detalhes financeiros, como eventuais bonificações para as atletas. Ela afirmou: "Foi alcançado um acordo para fazer mudanças na estrutura do futebol feminino, para que o quadro executivo e administrativo seja equiparado ao da equipe masculina, profissionalizando ainda mais a equipe e a equipe técnica."
Víctor Francos, secretário de Esportes da Espanha e presidente do Conselho Superior do Esporte, informou que as "reuniões cordiais" resultaram na criação de um comitê que envolve jogadoras, a federação e o governo. Ele destacou que os acordos devem impulsionar melhorias nas políticas de gênero, na igualdade salarial e levar a mudanças estruturais no futebol feminino, mas não ficou claro se haverá demissões na federação.
A crise entre as jogadoras da seleção espanhola e a RFEF tem uma longa história. Antes mesmo da Copa do Mundo, algumas jogadoras haviam ameaçado boicotar o time ao pedir a demissão de Jorge Vilda, alegando assédio moral. Além disso, havia insatisfação em relação ao tratamento desigual dado pela federação ao time feminino em comparação com o masculino.
A situação se agravou quando Luis Rubiales, na época presidente da RFEF, deu um beijo na boca da atacante Jenni Hermoso durante a cerimônia de premiação da Copa do Mundo. A jogadora alegou que o beijo não foi consentido. A situação piorou ainda mais quando Rubiales resistiu a renunciar ao cargo, apesar da pressão externa, do governo e até da FIFA, que o suspendeu por 90 dias. Ao mesmo tempo, a RFEF decidiu demitir Vilda, que foi substituído por sua assistente técnica, Montse Tomé.