A dor que envolve a família da advogada Cristiane Castrilon da Fonseca Tirloni, de 48 anos, é indescritível. A revolta e a crueldade do ocorrido são difíceis de mensurar. É impossível conceber a angústia do irmão da vítima ao encontrá-la nesse estado. Cristiane, uma jovem com uma vida inteira pela frente, tornou-se vítima da violência perpetrada por um homem que ela conhecera no dia do fatídico acontecimento. Estamos mergulhados em luto, confrontados mais uma vez com uma tragédia que afeta mulheres.
É essencial nos questionarmos: por que mulheres como Cristiane enfrentam um destino tão trágico?
Embora a investigação seja a única capaz de revelar a verdade dos eventos, nada, absolutamente nada, justifica tamanha brutalidade. Precisamos de leis mais severas, demandamos uma resposta do Congresso Nacional e urgimos por uma revisão completa do código penal. No entanto, acima de tudo, é crucial construirmos uma cultura enraizada no respeito às mulheres.
A epidemia de violência doméstica é um problema global que atravessa barreiras sociais. Em minha perspectiva, o maior desafio que enfrentamos são as leis desatualizadas em nosso país, que tratam a violência doméstica e o feminicídio como crimes comuns, quando, na realidade, são manifestações muito mais graves.
Os homens precisam entender que, quando um relacionamento chega ao fim, cada indivíduo deve seguir seu próprio caminho. O "não" de uma mulher deve ser respeitado, sem questionamentos. Infelizmente, essa mentalidade é profundamente enraizada na história, resultado de uma sociedade moldada pelo machismo. Não abordo isso com um viés feminista, mas sim como uma necessidade crucial. É imperativo desmantelar essa herança cultural que muitos homens carregam, para construirmos uma cultura fundamentada no respeito mútuo e na dignidade.
Devemos iniciar a transformação em nossos lares, conversando com nossos filhos e filhas, incutindo neles a importância da educação e da gentileza como parte integrante do caráter humano. Nossa visão da mulher precisa evoluir de maneira urgente. Os homens também devem se envolver nesse diálogo, pois essa é uma questão que os afeta profundamente.
Precisamos explorar as raízes culturais da violência e abordar suas causas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 10% e 56% das mulheres foram agredidas por parceiros em algum momento de suas vidas. No Brasil, estima-se que cinco mulheres sejam agredidas a cada dois minutos. Alarmantemente, em 80% desses casos, o agressor é o parceiro atual ou ex-parceiro, diferentemente do que ocorreu com Cristiane.
É vital reconhecer que a Lei nº 13.104 de 2015, que tipifica o feminicídio como agravante do homicídio e o enquadra como crime hediondo, juntamente com a Lei Maria da Penha, não são suficientes para quebrar esse ciclo de violência. É necessária uma abordagem mais eficaz, centrada na erradicação da cultura machista que ainda permeia nossa sociedade.
Manifesto aqui meus mais profundos sentimentos àqueles que perderam mulheres de forma tão brutal e inaceitável. Minhas condolências aos filhos e filhas órfãos. Saibam que estou comprometido a lutar por justiça ao lado de todos vocês, em memória de todas as vítimas.