Cuiabá , MT -
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A decisão que absolveu os sete réus envolvidos na tragédia do Ninho do Urubu, onde dez jovens atletas do Flamengo morreram em fevereiro de 2019, gerou revolta entre familiares das vítimas e ampla repercussão pública. A sentença, assinada pelo juiz Tiago Fernandes Barros, concluiu que não foi possível comprovar a responsabilidade individual dos acusados pelos crimes de incêndio culposo e lesão corporal grave.
O processo tramitava desde janeiro de 2021 e tratava do incêndio que atingiu os contêineres usados como alojamento das categorias de base do clube, no Centro de Treinamento George Helal, na Zona Oeste do Rio. O caso, que chocou o país, ainda pode ter novos desdobramentos, já que cabe recurso da decisão.
Entre os absolvidos estão ex-dirigentes e profissionais ligados à estrutura do CT:
Márcio Garotti, ex-diretor financeiro;
Marcelo Maia de Sá, ex-diretor-adjunto de patrimônio;
Os engenheiros Danilo Duarte, Fábio Hilário da Silva e Weslley Gimenes, responsáveis pela execução dos contêineres;
Claudia Pereira Rodrigues, encarregada dos contratos com a empresa dos módulos habitacionais;
E Edson Colman, sócio da empresa que realizava a manutenção dos aparelhos de ar-condicionado.
Segundo o juiz, não foi possível identificar nexo causal direto entre a atuação desses profissionais e o incêndio que vitimou os dez adolescentes.
A Associação de Familiares das Vítimas do Ninho do Urubu (Afavinu) divulgou nota repudiando a decisão e afirmando que o veredito reforça a sensação de impunidade.
“A sentença envia uma mensagem perigosa de que falhas e omissões em estruturas esportivas não serão punidas”, destacou a entidade.
No texto, a associação relembra que os jovens dormiam em contêineres improvisados, sem alvará de funcionamento, com janelas gradeadas e instalações elétricas precárias. Para as famílias, o ambiente contribuiu diretamente para a tragédia.
“Seguiremos em busca de justiça e na esperança de que essa decisão seja revista. A vida dos nossos filhos tem valor inestimável. Lutaremos até o fim por uma Justiça que proteja as vítimas, e não os responsáveis por suas mortes”, reforça o documento.
A Afavinu também pediu que clubes e órgãos públicos adotem medidas mais rígidas de prevenção. A entidade sugere a criação de auditorias obrigatórias e planos de manutenção preventiva em alojamentos que abrigam menores de idade.
O comunicado faz ainda um apelo à sociedade, imprensa e torcedores, para que a mobilização continue:
“Que a paixão pelo futebol se traduza também em compromisso com a vida e com a segurança dos jovens atletas. A memória dos dez garotos deve inspirar mudanças reais.”
O incêndio no Ninho do Urubu ocorreu nas primeiras horas do dia 8 de fevereiro de 2019, por volta das 5h da manhã, enquanto 26 garotos da base do Flamengo dormiam. O fogo começou em um aparelho de ar-condicionado e se espalhou rapidamente pelos contêineres metálicos usados como dormitórios.
Dez adolescentes, com idades entre 14 e 16 anos, morreram, e três ficaram feridos.
Em 2021, o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou sete pessoas pelos crimes de incêndio culposo e lesão corporal grave. Em maio de 2024, o MP reforçou o pedido de condenação com base em depoimentos de mais de 40 testemunhas. Apesar disso, todos foram absolvidos, decisão que agora poderá ser contestada em instâncias superiores.