Untitled Document
Cuiabá , MT - -


Paralimpíadas: Daniel Tavares conquista o 1º ouro do Brasil nos 400m do Mundial de Doha

Pódio na classe T20 é histórico para deficientes intelectuais do país. Em êxtase com o feito, paulista vai comemorar com festa e chocolate: "Dia mais feliz da minha vida"

ESSA NOTÍCIA É UM OFERECIMENTO:


   Data: 23/10/2015 - Por: Carol Fontes e Alessandro JodarDireto de Doha, Catar

"Eu ganhei o primeiro ouro do Brasil? Nossa, não sabia! Fico muito feliz por isso", disse Daniel Tavares, ainda surpreso com o feito nos 400m T20, assim que foi abordado pela imprensa em Doha, no Catar. Estreante em Mundiais, o paulista de Marília ainda foi responsável por fazer história ao colocar pela primeira vez um deficiente intelectual do país no topo de um Mundial Paralímpico de Atletismo. O pódio renovou as esperanças de que o Brasil se mantenha em terceiro lugar no quadro de medalhas, assim como na última edição, em Lyon, na França, quando a delegação fechou a conta com 16 ouros, 10 pratas e 14 bronzes. 

O brasileiro não tomou conhecimento dos rivais e completou em 48s27. O espanhol Ramirez Rodriguez (49s62) conquistou a prata, e o russo Artem Muratov (49s96) completou o pódio.

- Graças a Deus, saí com o ouro. Agora é fazer a festa no hotel e com a galera. Não vou nem dormir, vou bagunçar todo mundo hoje. Este é o dia mais feliz da minha vida. Realizei um dos meus maiores sonhos, agora vamos ver se vou ser convocado para as Paralimpíadas.  Mas a cabeça não está nem pensando agora, depois que eu voltar ao Brasil eu começo a pensar em 2016. Agora só penso na bagunça que eu quero fazer e em comer chocolate. É muita trairagem, o povo pega uns bolinhos assim de chocolate (mostrando com as mãos o formato pequeno) e não deixa a gente comer. Agora eu vou comer - disse Daniel, com um largo sorriso no rosto. 

Presidente do CPB, Andrew Parson pede foto com o campeão do Mundial Paralímpico de Atletismo, e Daniel Tavares brinca: "Cinco mil reais" (Foto: Ivo Felipe/CPB)Presidente do CPB, Andrew Parson pede foto, e Daniel brinca: "Cinco mil" (Foto: Ivo Felipe/CPB)

Enrolado a uma bandeira do Brasil e muito assediado pela mídia ao sair da pista, o paratleta brincou quando foi chamado para tirar uma foto ao lado de Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB): "Andrew? Cinco mil reais!".

Em êxtase com a sua primeira grande conquista, Daniel contou que a família e os amigos em Marília montaram um ambiente improvisado para assistir à final: "Eles armaram uma arapuca com a minha equipe lá. Instalaram uma televisão e um computador e devem estar me vendo agora". À noite, ele espera comemorar com uma festa ao lado de brasileiros e estrangeiros. 

- Acabei conhecendo algumas pessoas de outros países e vamos fazer uma baguncinha com a galera. Tem um espanhol, outro que fala inglês... Estou muito ansioso para ouvir o hino. Vou ali pular de alegria agora (risos) - festejou. 

Daniel descobriu o esporte paralímpico por acaso. Ele praticava capoeira, futebol e basquete, mas nunca havia pensado em iniciar no atletismo. Em um desmaio, sofreu convulsões e precisou ficar dois meses parado. Foi aí que ele descobriu a deficiência e resolveu se arriscar na corrida.

- Eu comecei fazendo capoeira, depois conheci o futebol, futebol não deu certo, aí eu treinei basquete, mas não tinha tamanho e parei depois de dois meses... Descobri o esporte paralímpico depois do desmaio que eu tive convulsão. Percebi a minha dificuldade em aprender. Não estava conseguindo mais acompanhar o pessoal nos treinos. Foi quando eu conheci a galera da AMEI (Associação de Marília de Esporte Inclusivo) e iniciei no atletismo. A parte mais difícil da minha vida foi quando eu tive a convulsão, foram os dois meses mais difíceis da minha vida. Mas superei tudo isso e estou realizando o sonho de conquistar esse ouro.

Daniel Tavares deixou espanhol e russo para trás, conquistando o ouro inédito no Mundial Paralímpico de Atletismo, em Doha, com tempo de 48s27 (Foto: Daniel Zappe/CPB)Daniel Tavares deixou espanhol e russo para trás, levando ouro inédito, com tempo de 48s27 (Foto: Daniel Zappe/CPB)

A primeira medalha do Brasil em Doha veio nos 1.500m T46 (amputados ou com deficiência nos braços), na última quinta-feira, com Alex Pires. Ex-jogador de futebol e futsal, o gaúcho da pequena cidade de Sapiranga foi o último a chegar no Catar, após problemas com o visto. O nome veio errado por uma letra, e ele só pôde embarcar uma semana depois do que a delegação verde e amarela. Situação semelhante ocorreu com Silvania Oliveira, que sujou o passaporte com shampoo e também não acompanhou o restante do grupo.