Cuiabá , MT -
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Nos bastidores do futebol brasileiro, uma realidade se impõe com cada vez mais clareza: Flamengo e Palmeiras jogam em uma liga à parte — ao menos quando o assunto é finanças. Com orçamentos bilionários e estruturas de alto nível, os dois clubes deixaram para trás a concorrência, abrindo um fosso que parece, até o momento, intransponível para a maioria dos adversários.
A construção desse domínio não foi por acaso. No Flamengo, o processo começou com Eduardo Bandeira de Mello, que priorizou o saneamento das finanças, mesmo sem títulos expressivos. Seu sucessor, Rodolfo Landim, colheu os frutos ao montar elencos estrelados e levantar Libertadores, Brasileiros, Copas do Brasil e outros troféus importantes.
Já o Palmeiras viu sua virada financeira com Paulo Nobre, e depois com Maurício Galiotte e Leila Pereira, que transformaram o clube em uma potência econômica e esportiva. Hoje, o Verdão conta com superávit, elenco forte e gestão eficiente.

Enquanto isso, a maior parte dos clubes brasileiros se equilibra em orçamentos reduzidos. Fora do “clube dos bilionários”, a média de arrecadação gira em torno de R$ 350 milhões por ano, valor que representa apenas uma fração do que movimentam Flamengo e Palmeiras.
Entre os que tentam romper essa lógica está o Cruzeiro, que mesmo com menos recursos, figura entre os líderes do Brasileirão. Sob a liderança dos empresários Pedro Lourenço e Pedro Júnior, o clube mineiro tem investido com cautela e responsabilidade, ainda que por vezes recorrendo a recursos próprios dos donos.
— Não queremos um clube dependente de aporte pessoal. O objetivo é alcançar autossuficiência, com receitas recorrentes e base sólida — explicam os gestores.
A discussão sobre a criação de uma Liga nacional volta ao centro das atenções como possível caminho para reduzir a disparidade. O modelo em análise prevê que 50% das receitas sejam divididas igualmente entre os clubes, com os outros 50% distribuídos conforme performance esportiva e audiência.
Especialistas defendem que, sem essa redistribuição, o futebol brasileiro caminha para uma polarização extrema — à semelhança da Espanha com Real Madrid e Barcelona. Para eles, Flamengo e Palmeiras já estão isolados no topo, e apenas uma mudança estrutural pode devolver equilíbrio à disputa nacional.
— O futebol precisa ser mais democrático. Hoje, Flamengo e Palmeiras estão muito à frente em termos de poder de investimento. É necessário rever como o bolo é dividido — afirma um analista.
Mesmo com limitações financeiras, o Cruzeiro mostra que é possível competir com inteligência. Com um elenco consistente e bem treinado por Leonardo Jardim, o clube evita contratações por impulso e mantém o foco na gestão equilibrada.
— Não adianta contratar por pressão. Só virá jogador se fizer sentido técnico e financeiro. Nossa meta é ser competitivo e, principalmente, manter as contas em dia — reforça a diretoria.
Após enfrentar um processo de recuperação judicial, o clube ainda lida com dívidas herdadas de administrações anteriores. Apesar disso, o momento é de otimismo. A torcida voltou a sonhar com Libertadores, títulos e protagonismo.
— O futebol que o Cruzeiro vem jogando é envolvente, competitivo e consistente. Dá para acreditar em uma temporada histórica — dizem os torcedores.
Mais do que nunca, o clube celeste aposta na solidez para se manter entre os grandes. E prova, a cada rodada, que mesmo diante de gigantes financeiros, ainda há espaço para quem une tradição, competência e esperança.